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  • Santana do Ipanema, 22/12/2024
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Marcelo Ricardo Almeida

A alma de Santana é literomultipluritransdiciplinar


A alma de Santana é literomultipluritransdiciplinar Foto: Sergio Campos / Cortesia

A crônica possui uma fala que percorre grande sertão: veredas. A donzela, quando beijada, não ruboriza, fica tagarela. É a crônica a oferecer à cidade o oxigênio necessário: sangue à vida dos animais, seiva à vida dos vegetais. A divindade mítica do tempo em Santana em gênero literário transfigurado.

É a crônica, filha de Cronos, a trazer a proposição presente em sua alma. Alma existe realmente? Existe. Se existe a alma, o que é a alma? É a festa do homo festivissimus. O que se festeja, festeja-se motivado pela provocação psyché?

Processos comuns nas relações humanas que motivam as festas cabem a quem conduz as atitudes controlar a direção à qual se destina; como se diz no mito do cocheiro sobre a força da alma, cabe a quem conduz a direção da festa aceitar ou não a provocação psyché. É a história que demonstra a provocação psyché. Se a alma de Santana é a Festa de Santana, a gênese está no gene autóctone Fulni-Ô, e se encontra a gênese da protofesta em um tempo que surge no tempo de 1787 quando as águas do São Francisco trazem o padre nascido em Penedo à Ribeira em sua viagem ao sertão.

Francisco Correia com nome de rio e o rio com bom nome de santo. Padre Francisco Correia quais corredeiras em alusão é Francisco trazido pelas águas do rio pra construir sobre a pedra a primeira capela. Padre Francisco devoto de Nossa Senhora Sant’Anna.

O rio que corta como faca com sua água e corta o rio com a sua água escura de lâmina escrevendo páginas na história de Santana. Padre Francisco Correia substitui as suas cores de Penedo pelo semiárido sertanejo vencendo aroeira-do-sertão, catingueira, baraúna, imburana-de-cheiro.

E no ano de 1812, o padre chega pra morar na velha Ribeira o caboclo e o vaqueiro o amarelo e o mentiroso e o criador de cavalos e o tangedor de burros e o domador de gados colecionador de urros a mulher pia e os filhos o encantador de vento o monarca e o escravo as abelhinhas e o favo o trabalho e a preguiça a liberdade e o látego ouvem as rezas do padre.

Padre Francisco faz amizade com povos Fulni-Ô em sua metafísica catequiza em sua catequese esculpe e prega aos habitantes ribeirinhos do médio rio Ipanema, Fulni-Ô, Kariri, Cajaú, Carijó, Iatê. Em 1838, o Padre Francisco Correia pacificou os sebastianistas conhecidos revoltosos da Pedra do Reino Encantado de Dom Sebastião.

Em 1937 o interventor Osman Loureiro decreta chamar uma escola em Santana de Grupo Escolar Padre Francisco Correia; no grupo estudam nomes que honram quaisquer lugares na história do Brasil. Acauã acorda de manhã, e é festa em Santana. Faz-se a cidade pela festa e a festa faz-se na luz.

A alma de Santana é a sua história preservada por seu povo, filhos adotados, legítimos, visitantes, vizinhos. Lendo Santo Agostinho, encontra-se em Santo Agostinho que a alma é quem governa o corpo. E a festa na cidade é uma espécie de consciência: age com a força que governa as atitudes.

Sentidos físicos e metafísicos são manifestos na festa de Santana nesse período de festa, na cidade. Porque durante as festas afloram as emoções e as decisões que surgem inevitavelmente nos exercícios de criatividade festiva. 

A alma da cidade é o que Anaxímenes refere-se ao falar sobre arché. É o princípio na cidade do qual tudo se origina. Sem alma a cidade não se sustenta. Alma está associada ao pensamento, à sensibilidade, ao que afeta as relações; como se diz, manifestam-se as relações mais facilmente nas festas. 

E o que é a alma de Santana? É a festa de Santana. É a característica principal do homo festivissimus.

Não há alma se não houver homo festivissimus. A história dramatizada de Santana no método Teatro-Feijão-Com-Arroz é a alma de Santana? Nas personagens: Transeunte; Morador; Ator I; Ator II; Teresinha; Francisquinho; Padre Escultor; os Fulni-Ô; Dom Perdigão; Padre Francisco Correia; Cantores. Período – Ação passa-se em Santana. Quando alguém lhe pede informações sobre o nicho na Casa da Memória Afetiva, na cidade. Situação um - Fase A – (No palco) em uma rua de Santana.

Transeunte: Acaso sabe onde fica o Grupo Escolar Padre Francisco Correia? Morador: Sei. Mas, não é mais grupo escolar. Transeunte: Não? E onde fica? Morador: Fica no Monumento. Mas, agora, é Escola Estadual Padre Francisco Correia. Transeunte: Escola Estadual Padre Francisco Correia. É aqui perto? Morador: Suba a ladeira. Transeunte: E depois? Morador: Passe à Prefeitura, desse lado, e depois uma praça do outro. Transeunte: Uma praça e...? Na Fase B – Na plateia do Teatro-Feijão-Com-Arroz. ATOR I: Houve um tempo no tempo de 1757. Como em 1757 outros nasceram. Na pequena Penedo daquele tempo. Quieto às margens do São Francisco. ATOR II: No silêncio do velho canto Saboeiro. Em outro tempo era o ano de 1787.

E as águas do São Francisco trouxeram. O padre nascido em Penedo à Ribeira. ATOR I: Em sua viagem de Penedo ao Sertão. Francisco Correia com nome de rio. Com rio com nome de santo. Francisco. Correia como as corredeiras em alusão. ATOR II: Padre Francisco trazido pelas corredeiras. Para construir na pedra a primeira capela. Padre Francisco um devoto de Santa Ana. ATOR I: O rio que corta como faca com sua água. Corta o rio com sua água escura de lâmina. Escrevendo páginas na história de Santana. ATOR II: Padre Francisco Correia troca as cores. De sua Penedo pelo semiárido sertanejo. Venceu Padre Francisco aroeira-do-sertão. Catingueira baraúna imburana-de-cheiro. ATOR I: Qual Rio São Francisco também vencera.

Na grande seca de 1807 muitas histórias. De fome e tantas foram histórias de sede. ATOR II: E a morte levou Padre Francisco Correia. Em 1848 escultor em peças de madeira. Sabe que pássaro é aquele? não é uma ave? É acauã! acauã? que vem acordar a manhã. ATOR I: E veio à história a história doutra história. E educou o sertanejo. Na cartilha do Grupo Padre Francisco Correia. Situação dois – Fase A – No palco, a infância de Francisquinho. Teresinha: Ó Francisquinho! Francisquinho: Que, mãe! Teresinha: Sai de cima dessa pedra, Francisquinho! Francisquinho: Que, mãe! Teresinha: Tu vais te afoitar, o rio São Francisco te pega, Francisquinho! Francisquinho: Eu vou pescar, senhora minha mãe. Teresinha: Pescar, Francisquinho! E os estudos para ser padre, Francisquinho? Francisquinho: Vamos ter peixe ao almoço, Dona Teresinha! Jesus ensinou a Pedro onde jogar a rede. Aqui, não tem peixe? O que importa é a fé, Dona Terezinha, minha mãe. Teresinha: Ainda te vejo estudando Direito Canônico, na Universidade de Coimbra, Francisquinho. Fase B – Na plateia do Teatro-Feijão-Com-Arroz. ATOR II: E a vida levou Padre Francisco Correia.

Padre-rio que corta quão faca com sua fala. Corta rio com sua água escura de lâmina. Escrevendo páginas na história de Santana. ATOR I: E há 200 anos veio à história a história doutra história ida. Na cartilha do Padre Francisco José Correia de Albuquerque. Que bem ali na Ribeira do Ipanema soprou o barro e fez vida. ATOR II: Era o ano de 1812. E Francisquinho Chegou para ficar. Na velha Ribeira. ATOR I: O caboclo e o vaqueiro. O amarelo e o mentiroso. E o criador de cavalos. E o tangedor de burros. E o domador de gados. Colecionador de urros. A mulher pia e os filhos. O encantador de vento. O monarca e o escravo. As abelhinhas e o favo. O trabalho e a preguiça. A liberdade e o látego. Ouviam as rezas do padre. ATOR I: Padre Francisco fez amizade com povos Fulni-Ô.

Em terras de gado dos irmãos Martins e Pedro Vieira. ATOR II: E nas terras sertanejas ditas terras de ninguém. Sesmarias espalhadas do litoral ao sertão. De bravatas de brigas de viajantes aventureiros. O Padre Francisco Correia em todo o Sertão viajaria. Com nome de rio que viajava em leito de pedra. Francisco foi seu pai e franciscana a congregação. ATOR I: Enquanto trabalha na porta da capela. Senta-se o Padre Francisco Correia. Com Fulni-Ô e esculpe em madeira. Compõe padre seus hinos de louvor. Situação três – fase A – No palco, a oficina de escultura do padre. Padre escultor: Sabe o que vai sair desta madeira, meu irmão? Fulni-Ô: O que, senhor padre? Padre escultor: Um crucifixo. Fulni-Ô: Crucifixo?

Padre escultor: Esperem! Fulni-Ô: Isso? Padre escultor: Estou compondo. Vem, vem pecador. Onde é que te escondes? Teu Senhor te chama. E tu não respondes? Responde a Jesus. Que já é tempo. Não confie na vida. Que é transitória. Da morte à lembrança. Trazer na memória. E te chama desta cruz. Quem chama é Jesus. Fulni-Ô: Jesus? Padre escultor: No princípio, Deus criou o céu e a Terra.

A Terra estava sem forma e vazia; as trevas cobriam o abismo e um vento impetuoso soprava sobre as águas. Deus disse: “Que exista luz!” E a luz começou a existir. Deus viu que a luz era boa. E Deus separou a luz das trevas: a luz Deus chamou “dia”, e às trevas chamou “noite”. Houve uma tarde e uma manhã: foi o primeiro dia. Fulni-Ô: Quem vai ficar preso a este madeiro? Padre escultor: Jesus, o filho de Deus. Fulni-Ô: E o que ele fez pra merecer este castigo? Fase B – Na plateia do Teatro-Feijão-Com-Arroz. ATOR I: À porta da capela, a enxó batia na madeira e o padre com os Fulni-Ô. Em sua metafísica catequizava em sua catequese esculpia e pregava. ATOR II: Aos habitantes ribeirinhos do médio rio Ipanema.

Fulni-Ô! Kariri! Cajaú! Carnijó! Iatê! Carijó! Todos juntos ao padre eram parte de um povo só. ATOR I: Dos povos indígenas eram as árvores as aves. As pedras as águas e tudo o que a terra produz. ATOR II: Este mesmo crucifixo do escultor. Que conversa com povos Fulni-Ô. Encontra-se no altar-mor da igreja. Matriz da Paróquia N. Sra. Santana. ATOR I: Outros crucifixos e peças sacras. Foram esculpidos em madeira. Pelo Padre Francisco Correia. ATOR II: Um fato do padre milagroso.

No tempo das Santas Missões. O missionário franciscano. De nome Francisco Correia. Como Francisco foi seu pai. E Francisco o rio em Penedo. Antiga e nativa terra franciscana. ATOR I: O Brasil do tempo do Padre Francisco Correia. Vivia o tempo da escravização do semelhante. E Aninha filha de escravizados na Vila de Propriá. Criança ainda propriedade do Sr. José Sutero de Góes. ATOR II: Os castigos do tempo de escravização. Cantados por Castro Alves o tronco. O látego o pelourinho e o acoite. Aninha recebera a missão de sua ama. De levar ao padre nas Santas Missões. Uma terrina de louça coberta num pano. ATOR I: Correu e tropeçou a criança escravizada. Porque havia um buraco em seu caminho. A terrina escapou de suas mãos de menina. ATOR II: Quais castigos não receberia a pobre Aninha?

Chibatadas lhe esperavam na casa de sua ama. ATOR I: Senzalas e casarões alusões aos castelos medievais. A aristocracia burguesa como uma nobreza tardia. ATOR II: Trêmula de medo a menina Aninha corre e tropeça. Contando por certo ser castigada na casa grande. ATOR I: Padre Francisco Correia de Albuquerque. Como alguns registraram os seus milagres. Sabendo do ocorrido com a Aninha escrava. Ana avó de Jesus Ana de sua devoção. Ana a santa que daria nome à Ribeira. de Ribeira para Sant'Ana do Ipanema. ATOR II: Disse o Padre Francisco Correia. Aninha junte os cacos da vasilha.

Una uns aos outros e cubra-os. Novamente com a toalha de louça. ATOR I: A fé de Aninha foi tanta e a alegria. Como tantos outros casos ocorridos. Que Aninha ao chegar à casa grande. Onde crime e castigo lhe seriam atribuídos. Pôs sobre a mesa a terrina sob a toalha. E a descobriu e estava inteira quanto era. ATOR II: Padre Francisco Correia abriu muitas Santas Missões. Devotos viajavam léguas para ouvir as prédicas. ATOR I: Brejo Grande conheceu o missionário Francisco Correia.

E também Girau do Ponciano e a Barra do Ipanema. E Palmeira dos Índios e Águas Belas e Recife e Olinda. E Pacatuba e Propriá e Porto da Folha e São Brás e Quebrangulo. E Ribeira do Ipanema e Penedo e Papacaça e Junqueiro. E Poço das Trincheiras e Anadia e Flores e Bezerros e Ingazeira. E Baixa Verde e Serra Talhada. Muitos povos e muitas terras... ATOR II: Foi no ano de 1838 que o Padre Francisco Correia.

Pacificou os sebastianistas conhecidos revoltosos. Da Pedra do Reino Encantado de Dom Sebastião. Situação quatro – FASE A – No palco, na igreja de Dom Perdigão. Dom Perdigão: Padre Francisco Correia, neste ano de 1835, a Paróquia de Flores o terá como vigário. Padre Francisco Correia: Dom João Marques Perdigão, aqui, eu ouvi falar no profeta João Ferreira. Dom Perdigão: Aquele chefe de seita fez morrer, aqui em Pernambuco, mais de 50 fanáticos em terrível sacrifício. Fase B – Na plateia do Teatro-Feijão-Com-Arroz. ATOR I: Contam os biógrafos do padre. Que Dom João Marques Perdigão. Com ajuda de chefes políticos locais. Confiou ao Padre Francisco Correia. O rebanho da paróquia de Flores.

E foi o Padre Francisco Correia. Quem pacificou a região zangada. Pondo fim à seita de João Ferreira. ATOR II: Lutou o padre a boa luta. Lutou Francisco Correia. Contra muitos adversários. De El-Rei o Dom João VI. ATOR I: Outro ano, o Padre Francisco José Correia de Albuquerque foi eleito. Membro do Conselho Geral do Governo da Província. ATOR II: Padre Francisco José Correia de Albuquerque. Deputado Geral apresentou projeto. Criava a Freguesia de Santana da Ribeira do Ipanema. ATOR I: Pintor e arquiteto Padre Francisco Correia, o construtor. Ergue a capela em Limoeiro de Anadia e também em outras vilas.

Foi dele a primeira capela de Santana que hoje é a Igreja Matriz. ATOR II: O padre falecido em 1848. Foi sepultado na Capela de Nossa Senhora do Rosário. Em Bezerros, Pernambuco. E muitos foram os prodígios do Padre Francisco Correia. ATOR I: No fim dos tempos idos de 1937. O interventor Osman Loureiro decretou. Chamar uma escola de Grupo Escolar Padre Francisco Correia. Situação derradeira – Fase única – No palco, na mesma rua do princípio em Santana. Morador: Sempre foi descortês ao visitante que visita o município quando, na cidade, pergunta-se sobre um tal lugar e ninguém sabe onde o tal lugar se encontra.

Entendeu onde está o velho Grupo Escolar Padre Francisco Correia? Transeunte: Não só entendi, como sei boa parte de sua história. Morador: Tudo não possui uma história? Transeunte: É o que se diz. Sempre é mais fácil, quando se conhece a História.

Marcello Ricardo Almeida é autor do livro Que achas do padre beber em serviço? Florianópolis: Editora da UFSC, 2004.



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