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  • Santana do Ipanema, 22/12/2024
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Marcelo Ricardo Almeida

DEZ MINUTOS DE ALEGRIA: O papel de quem lê e escreve na escola vai mais longe

Foto: Freepik
DEZ MINUTOS DE ALEGRIA: O papel de quem lê e escreve na escola vai mais longe
O tempo é uma agulha
pela qual a linha passa:
a uva, a maçã, a manga
há na feira em Santana.
Convive-se na crônica,
nesta divindade grega,
desde Cronos derivada;
uma criação dos povos
faz congelado o tempo na escola.


Professora Julia leciona Língua Portuguesa, na escola pública. É dela os fins e os meios pedagógicos dos dez minutos de alegria. Como surgem estes dez minutos de alegria ao final da aula?

No Ensino Fundamental, as salas estão cheias. O fenômeno político do aparelho celular, com acesso à internet em salas de aula, ressignifica, subjetivamente, a vida na escola.

Os dez minutos de alegria da professora Julia ressignificam o vínculo afetivo entre quem se propõe a ensinar e quem se propõe a aprender. Cabe ao mundo escolar a prática da protoafetividade.

Pedagogicamente, a professora Julia conquista em seu ofício as salas de aula. Julia, vindo à aula, vê-la, vence-a. Ela percebe o outro pelas qualidades dos afetos conscientes. 

E o que é protoafetividade exercida por Julia neste universo das aulas de português? O interruptor da protoafetividade – encontra-se no artigo “Expectativa de aprendizagem refletida no mito de ensino” – não acende palavras amorosas ou gestos carinhosos, porém lança o foco de luz sobre emoções e sentimentos em relação aos conteúdos entre o ensinar e o aprender.

Tais conteúdos passam a fazer sentido (por causa da emoção e sentimento envolvidos nas relações cognitivas), não apenas para quem ensina, mas também para quem aprende. Com esses dez minutos de alegria, a professora Julia proporciona ao aluno reviver afetos de alegrias.

Estes afetos neutralizam o estereótipo de associar os estudos de português com angústias e repressões. Cada afeto pertence a cada um, isto difere do aspecto coletivo do sentimento. A professora Julia, em sua experiência coletiva, desperta nas aulas o exercício da partilha dos conteúdos presentes no componente curricular da Língua Portuguesa.

Isto acontece graças a sua sensibilidade pedagógica, e anula a emoção negativa que possa haver durante o estudo de português. Há mais de duas décadas, vou à mesma barbearia aqui perto de casa. E, ontem, Souza quis saber por que as pessoas têm tanta aversão ao livro. Talvez, esta aversão se inicie na escola.

Não nas aulas de português quando há o exercício da protoafetividade. Com essa liberdade pedagógica dos dez minutos de alegria, a aula rompe com o tradicionalismo colonialista da pedagogia tradicional.

Contesta o sistema do castigo à indisciplina, desliga-se do escravismo à punição e reconhece a sala de aula como espaço político. Pedagogia dialógica reconhece a sala de aula como espaço político.

É no espaço político democrático onde se estabelece quaisquer diálogos no exercício das ensinências e aprendências. Dez minutos de alegria, uma expressão metafórica que simboliza as aulas democráticas, expressa a vontade de querer levar a escola pública mais longe.

Livrá-la do abandono, da carência, do castigo, da reprovação. Porque indisciplina em sala de aula leva ao castigo, este à reprovação, ao abandono. Perde-se a aura que existe nas relações de afeto. E o ensino tropeça na indiferença e prejudica a aprendizagem.

Até quando a escola que se conhece existirá? Esta é a pergunta dia após dia pela inteligência artificial generativa.

O acendedor de lampiões, de Jorge de Lima, substituído pela cachoeira de Paulo Afonso no mundo de microplásticos e metais pesados. Classes gramaticais de novo?

As aulas de português não são tão só classes de palavras. Convive-se com aprendizado supervisionado, não supervisionado, semissupervisionado e por reforço.

O que, inapropriadamente, se diz inteligência artificial faz autocorreção de texto digitado. Quantos empregos irão sobreviver até a próxima década? Como é se sentir livre da pressão, na escola?

Os dez minutos de alegria permitem ao aluno exercitar o diálogo, fortalecer as amizades, circular livremente na sala. Biblioteca! ocupe a sala principal, o espaço que recepciona quem chega à escola, terra entre rios que sobrevive desde os povos mesopotâmicos.

Há um acordo tácito entre a professora Julia e os alunos, no Ensino Fundamental, que estabelece esse aprender-biblioteca. Afinal, o mundo é construído por bibliotecas; Borges fala sobre isto em La biblioteca de Babel. Na arquitetura escolar, o espaço da biblioteca não é apenas mais um setor pedagógico; nela, aluno e professor estabelecem parcerias.

Estes dez minutos de alegria implantados no Ensino Fundamental é uma parceria entre a professora Julia, alunas e alunos com efeitos humanizatórios. Como é no fim, é no princípio, e o princípio da aprendizagem colaborativa no ensino age na integração entre os envolvidos no processo educacional.

Nisto ressurgem inferências, sem elas não se deduz resultados nem interpretação das informações recebidas na escola. São parcerias na escola que a permitem ir mais longe. O papel de quem lê e escreve na escola vai mais longe.

Marcello Ricardo Almeida é autor do livro (1988) Ideias políticas de filosofia educacional: uma proposta crítica mudando a estrutura escolar autoritária da Escola Básica à Universidade.



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