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  • Santana do Ipanema, 08/10/2024
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Marcelo Ricardo Almeida

PASÁRGADA TAMBÉM PERTENCE A MIM

Foto: Clerisvaldo B. Chagas
PASÁRGADA TAMBÉM PERTENCE A MIM Antigo colégio Ginásio Santana, hoje Colégio Cenecista

O quarto de Dona Aurora guardava um aroma de quintal. O jardim amplo refúgio de lembranças e pássaros. Debaixo dos caquizeiros, os beijas visitavam o seu orquidário. Gregor Samsa, metamorfoseado em inseto, vinha circundar as orquídeas de Dona Aurora. Os pardais no quintal se alimentavam de metamorfoses.

O tempo, de tanto correr, se cansou.

A chuva parou?

Ah, que saudades do vovô!

Um saudosista morreu empinando pipa.

E o pai nunca enricou, e não enriqueceu na vida porque não foi batizado Agripa 

Morre o dia nas sombras.

E quem irá ao enterro?

A noite que vem.

Mãe!

Diga.

Quê foi?

Quê!

Por que fazem isto comigo? Eu vi você rindo de mim.

Ninguém riu de você, meu pai.

O que eu vi? Você riu.

O barulho que você escuta é o barulho do rio.

Ele passa e conversa com o espelho.

Bons-dias, como vai o senhor?

E agora fala com o espelho.

Pra ele, esse do espelho é um cavalheiro.

Conversa como se fosse outro homem.

Ele quer fugir de casa.

Só vive reclamando de fome.

Ele agora reaprendeu a chorar.

Quando tem sono abre a boca e choraminga.

Eu queria abrir a boca pra dizer.

O dia foi de mormaço.

Essa noite vai chover.

Alguém tem um cordão?

Se todos estão de acordo é hora do acórdão.

Às vezes nas quais a escola em Santana se aproxima da poesia, a poesia aproxima-se da escola em Santana. Atribui-se ao poeta português, autor de o “Livro do Desassossego”, a opinião sobre a trova quão vaso de flores cujas casas na cidade expõem à janela da alma.

Em Santana arrisca-se dizer que o aluno é capaz de escrever uma trova, este poema em redondilha maior de quatro versos populares. Quando aluno no Grupo Escolar Padre Francisco Correia, nas aulas da professora Marinita, aprendia-se sobre a importância da leitura de literatura.

À época de aluno no Ginásio Santana, escrevi na capa do caderno de língua portuguesa:

Pasárgada pertence a tantos.

Ela também pertence a mim?

Hoje não reivindico Pasárgada.

Agora a TV reprisa Rin-Tin-Tin.

Fruição literária nas escolas em Santana cabe ao tipo de currículo adotado. A intertextualidade sobre a Pasárgada manuelina é apenas exemplo de trova. Para além do exemplo da fruição literária nas escolas santanenses, vale salientar que quase sempre se adota nas escolas a teoria tradicional do currículo.

Ao se reconhecer, porém, que a humanidade se acaba com o fim da fantasia, busca-se na fruição literária o elixir que mantém viva a fantasia e, por conseguinte, mantém viva a humanidade (o ser humano). Há um pêndulo entre a fruição literária no exercício escolar e os tipos de currículo.

A prática pedagógica longe da dialética é antiprática pedagógica.

Conhecimento prévio é fundamental à prática pedagógica; ignorar o conhecimento prévio é ignorar a própria prática pedagógica. Na aprendizagem não há erro, o que há é vontade em aprender.

Educação formal existe como exercício de imaginação e descobertas. Como refletir sobre a compartimentalização na escola do que se ensina como conhecimento na teoria tradicional do currículo na Educação Básica? Além da teoria tradicional, há teoria crítica e pós-crítica.

O aluno em geral está inscrito pela teoria tradicional do currículo, mas reage à pós-modernidade mesmo que ele não consiga o conceituar. O aluno quase sempre não consegue escapar das significações da escola na pós-modernidade.

Ausência da transdisciplinaridade ao aluno nos ensinos Fundamental e Médio, apesar de o aluno reagir com algum mal-estar à realidade na escola, ele tem dificuldade em identificar o que lhe causa mal-estar ao ser classificado pelas provas.

As provas, os testes, os exames na escola quase sempre são escorregadios; currículos – real e oculto – ocorrem concomitantemente durante a aula. O que existe é o currículo prescrito e a partir deste, ele sofre segundo a aula do professor que manifesta os currículos (real e oculto) durante o seu trabalho pedagógico na escola.

Cumpre o seu papel curricular quando chega à hora das avaliações escolares de larga escala? Em breve vender-se-á em lojas de departamento fantástico software; este com programas cuja própria máquina, e não mais a pessoa, escreverá o romance, o conto, a crônica e a poesia, o ensaio, o tratado, a novela e a aula, por exemplo.

Mas há uma pergunta: Quais caminhos são percorridos pela escola para que o currículo adotado alcance os efeitos que se desejem?

O que exatamente quer dizer a palavra currículo escolar com todos os seus meandros? Fala-se na estrutura curricular na escola como essencial e sem ela não há escola ou há tão só improviso.

O estruturalismo na grade curricular lembra o estruturalismo do Modernismo quando o caixeiro-viajante kafkiano acorda de noite intranquila e percebe-se metamorfoseado num inseto estranho.

Muitos teóricos em leitura de literatura defendem a ideia de que a poesia não pode existir sem a linguagem.

Nas escolas de Educação Básica, a pós-modernidade exige do aluno esforço criativo e este se encontra na curiosidade epistêmica do querer saber; se sabe pelo espanto na manifestação do pathos filosófico quando o aluno demonstra o seu querer pelas aprendências. E é por isto que, às vezes nas quais a escola em Santana se aproxima da poesia, a poesia aproxima-se da escola em Santana.

Marcello Ricardo Almeida é autor do livro “Ein prosit, Dionísio! aspectos míticos da Oktoberfest”, e da peça de teatro “Morcegos Humanos”, de 1993, que recebeu prêmio de dramaturgia em SP.



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