Marcelo Ricardo Almeida
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SERTÃO FÉRTIL
É a escrita criativa quem salva o aluno na escola da pós-modernidade. E o sertão no qual se encontra Santana é fértil em escrita criativa.
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A aula, ao se falar pela voz da crônica na contemporaneidade, não é monólogo, mas participação; é cumplicidade nas relações pedagógicas entre quem se propõe a ensinar e quem se propõe a aprender no processo comum à educação. Aula é a distribuição ou a partilha de algum conhecimento (saber).
E o sertão é mais; não apenas o que se apreende na escola. O Sertão não se caracteriza apenas na maior extensão geográfica entre as quatro sub-regiões nas quais se encontram os Estados nordestinos. Sertão é uma mesa alta repleta de livros de literatura.
Sertão fértil em escrita criativa. Nessa mesa alta chamada sertão fértil em escrita criativa, sustenta a mesa “Os Sertões” (1902), de Euclides da Cunha (1866-1909); “O Quinze” (1930), de Rachel de Queiroz (1910-2003); “Vidas Secas” (1938), de Graciliano Ramos (1892-1953); “Grande Sertão: Veredas” (1956), de João Guimarães Rosa (1908-67).
Estes que sustentam essa mesa alta chamada sertão são alimentados pela estética literária que os precede. Educação e poética são exercícios de imaginação e descobertas. A escola em Santana é convidada a refletir sobre a compartimentalização do que se ensina como conhecimento na teoria tradicional do currículo que está presente na Educação Básica.
O aluno santanense reage à pós-modernidade mesmo que ele não consiga conceituá-la. Ele não consegue escapar de suas significações. Memorização de conteúdos em detrimento a habilidades e competências ao se apropriar o aluno do saber? Ausência de transdisciplinaridade na Educação Básica no enredo da violência simbólica – alusão a Bourdieu (1930-2002) – que, apesar de reações recorrentes ao mal-estar à realidade na escola, faz o aluno ter dificuldades em identificar o que lhe causa mal-estar ao ser mais um no sistema classificatório das provas.
Transdisciplinaridade na escola da pós-modernidade, pois o aprender coletivo implica em ritmos heterogêneos e tolerâncias às limitações e ansiedades presentes no processo de aprendências. Quem vai à aula sabe de seu conhecimento para distribuí-lo; não cabe arrogância de quem sabe, tampouco desdém de quem não sabe.
Considerando refletir sobre a transdisciplinaridade e violência simbólica na escola da pós-modernidade, o olhar volta-se à pergunta: Quem faz as regras na escola? Quando algumas pessoas na escola se dizem mais iluminadas se comparadas às outras, o palco da escola deixa de ser o palco de todos. O currículo escolar perde a dinâmica necessária quando lhe é arrancado toda e qualquer possibilidade de emancipação.
Como se emancipar pelo currículo amordaçado? Os que estão distantes da escola podem ver a sua luz. Essa luz a iluminar a escola está na escrita criativa de seus alunos. Se a curiosidade é a química do filósofo, a imaginação é a forja do poeta. A curiosidade e a imaginação são os esteios de uma mesma ciência (saber).
É a escrita criativa quem salva o aluno na escola da pós-modernidade. E o sertão no qual se encontra Santana é fértil em escrita criativa. “Os Sertões” brilham na prosa euclidiana. E brilha o sertão com Rachel ao escrever “O Quinze”, e “Vidas Secas” iluminam, e ilumina a escola “Grande Sertão: Veredas”.
O dia em que a escola descobre que o lugar da lâmpada é sobre a mesa e não sob a mesa, a escola ilumina cada aluno próximo à mesa. Ilumina também a escola a todos os que estão longe da escola e vêm de longe a luz da escola. Ao longo do tempo, a presença do professor transmigrando a realidade nos espaços sociais.
O ensino de quem se propõe a ensinar e a aprendizagem de quem se propõe a aprender representando ruas de lampiões acesos; acendedor de lampiões, de Jorge de Lima, é infatigável; rua a rua, parodiar o sol e ainda associa-se ao luar no sertão: um espetáculo digno de todos os adjetivos. Cabe à crônica voltar-se às Vossas Excelências Geografia e História nas aulas no Ginásio Santana.
Os professores de geografia e história, no ginásio de todas as distintas épocas, demonstrando quais são as fronteiras da compreensão e as delimitações na análise do que se escuta na voz do senso comum em diferentes espaços nas duas áreas de conhecimento. O velho Ginásio Santana na praça do Monumento; tantas ruas consertadas. Quantas casas... Quantas vidas.
Um prédio: salas de aula; os professores e alunos. Conteúdos programados: e os sonhos alçam voos ganhando o mundo asas. Nas situações cotidianas, em Santana, Vossas Excelências Geografia e História nas aulas no Ginásio Santana. Geografia e História desde os povos antigos (Ritter e Humboldt, na Alemanha do século XIX, tornam a geografia ciência; na magna Grécia, Heródoto, pai da História).
Acaso o rei de Micenas teria chegado à Troia sem geografia e sem história? perguntam os professores em perguntas que se transfiguram aos alunos durante as aulas, no Ginásio. As transformações estudadas nas aulas de geografia e de história. As coisas e os saberes movidos por história e geografia. As temporalidades e os lugares aos quais se acessam nessas duas áreas de conhecimento. Na rua transformada nessa calçada alta ligando as cidades.
Há nessas casas antigas as mesmas coisas; na mesa da sala de estar as mesmas pessoas, as velhas paisagens. Logo riacho Camoxinga encontra-se com o rio, segue o Panema abaixo. Ficam as casas altas feito um quadro na paleta de Velázquez. Nas luzes da manhã iluminam-se as casas nas cores de Van Gogh. E o dia segue trôpego.
Voa um mosquito grogue. E amanhecer não falha; vem aurora sorridente. Passa a chave na porta, Santana lugar de sol. É outro dia de trabalho, e já é outro dia de aula. E, neste breve texto, a memória de Vossas Excelências Geografia e História nas aulas no Ginásio Santana. Acaso Miguel de Cervantes Saavedra gestaria esta narrativa “El Ingenioso Hidalgo Don Quijote de la Mancha” ignorando geografia e história? perguntam os professores aos alunos durante as aulas, no Ginásio.
Como vocês querem desvendar o que acontece hoje ao mundo? Santana fragmentada. Cada imagem é uma casa; nessas casas não há portas: casas de lembranças misturadas nas calçadas, nas janelas de cada casa. Não demora o dia passar; outros dias também se vão. Alguns dias tão na pressa, e outro dia violão somente; uma, duas garrafas à noite numa lua n’água lida agora.
Na garrafa viaja a poesia; em cada porto que passa há sempre uma nova vida. E o foco narrativo em Vossas Excelências Geografia e História nas aulas no Ginásio Santana. Acaso Sun Tzu teria escrito sem geografia e sem história? perguntam ainda os professores aos alunos durante as aulas, no Ginásio.
A Igrejinha de Nossa Senhora está diante da escola (aquela igrejinha antiga). Santana e a alteridade amontoando assuntos, conversas de amizades... ...de tantas promessas vãs ...de muitos perdões falidos ...de juras amorosas dúbias ...de petições contratos impedidos.
Diante do alheio se sabe quem realmente se é. E está diante do Ginásio igrejinha a Nossa Senhora, na praça o símbolo de fé. Há reencontros, em Santana, nesta crônica às Vossas Excelências Geografia e História nas aulas no Ginásio Santana, renovando o reencontro entre o narrador personagem e o narrador onisciente?
O ensino que se faz pensar historicamente, conforme as mudanças promovidas pela Base Nacional Comum Curricular, e os métodos com os quais se estuda os aspectos geográficos. Ensino fundamental assegurando aos alunos de todas as épocas os porquês da natureza e os porquês da sociedade. Nesse bate-papo entre o passado e o presente com professores de geografia e história de todos os tempos.
Marcello Ricardo Almeida é autor do livro de contos O dente cariado de MonaLisa, 2004.
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