Marcelo Ricardo Almeida
NA TURMA
Efeméride sobre a educação no sertão. Na voz da época: em 1978 quando cem alunos foram matriculados na oitava série, e estudando na mesma sala de aula, era incomum, pelo número de alunos, a sala de aula ficou conhecida por Turma do Oitavão (na sala que havia sido o Teatro Augusto Almeida); era o último ano do Primeiro Grau, no Ginásio Santana. Construído em um dos mais valorosos edifícios da memória, o prédio histórico que hoje abriga o Colégio Cenecista Santanense.
Na Princesa do Sertão
No ginásio, surge a Turma do Oitavão
Na educação, ilumina-se o Teatro Augusto Almeida
No oitavão, cem alunos
Há entre vida e destino
Expectativa de liberdade
Pedidos proteção divina
Segue vida livre-arbítrio
Ditando diferentes sinas.
Entre estas duas tipificações pedagógicas (apriorismo e empirismo), a garantia do direito do aluno à aprendizagem ainda era a construção dia a dia do conhecimento no ambiente escolar, cientificamente construído. O grande desafio na docência era não improvisar a aula.
A Base Nacional Comum Curricular (2017) contribui para o bom planejamento das aulas. Segundo a legislação (LDB, artigo 13, inciso III), a incumbência de zelar pela aprendizagem dos alunos ainda era do professor. Muitas línguas eram faladas no processo de aprendizagem.
As línguas mais diversas, influenciaram, naturalmente, os sotaques. Quaisquer lugares em quaisquer países e em qualquer região desses países havia um sotaque peculiar.
Em Santana houve a Turma do Oitavão. O principal entre todos os sotaques ainda era a educação formal sistematizada sob a orientação de uma metodologia exitosa ao trabalho de quem se propusesse a ensinar e a quem se propusesse a aprender.
Que praça é essa praça,
ainda praça em Santana,
mesma praça aliterante.
Quando praça, e é pouca,
a sua tônica e a sua átona,
sendo a praça ainda uma.
Praça solta, fotográfica,
fotografada praça essa,
praça em pouca roupa.
Sendo que a intensidade
na praça menor é átona,
e a cedilhapraça tão boa.
Cantam os passarinhos.
Nas praças surgem
voos livres de pássaros;
nas cidades praças;
e o amanhã das árvores:
pulmões ao mundo,
cantam os passarinhos.
A manhã de cada ave
depende das folhas,
depende das árvores;
não há raízes cidades
senão nessas praças
habitadas por saguis.
Crocita a coruja à noite escorre da serra taramela a arara. Olho-de-boneca, orvalho de abril molha breve raio de sol.
Alagadiças ruas abrigam em palafitas sonhos de muitas rãs. Pescador pesca sol, pesca sonho, tempestade, quando Iemanjá quer.
As rosas de maio alimentam o beija-flor no silêncio das asas. Solo rachado recado da natureza desenho poético.
Nas escolas, em Santana, há crianças surdas, e não é diferente em outros lugares mundo afora. Há o modus vivendi surdo na alfabetização e letramento. A criança surda usa outro sistema em lugar da fala, este é a Língua de Sinais onde o sistema gesto-visual prevalece sobre o oral-auditivo.
O termo fala é utilizado tanto na modalidade oral quanto na sinalizada. Quem sinaliza também fala, porém de outra forma. Os livros povoam a imaginação quais as pás de moinhos movidas pelo vento.
Pedagogicamente, a criança surda carece apreender L1 e L2 no processo de alfabetização e letramento. L1 é a sua língua natural; L2, na modalidade escrita, é a chave do tamanho com a qual a criança surda interage no mundo letrado.
Língua Portuguesa escrita não é natural à criança surda, porque a sua língua materna é a Língua de Sinais. A criança surda aprende a ler por meio de representações (palavras, cores, imagens e outros recursos pedagógicos) mediados por seu professor que lhe ensina, simultaneamente, em Libras (L1) e (L2) Língua Portuguesa escrita.
Esta segunda língua (L2) ocorre pela apreensão visual para a criança surda no processo de alfabetização e letramento. Há uma viagem de 20.000 léguas submarinas, quando o assunto é livro.
Português, como modalidade escrita, é a alfabetização da língua escrita, e a Libras, por ser visual, garante-lhe aquisição mais fácil se comparada à Língua Portuguesa, segunda língua para a criança surda cuja modalidade é associada a diferenças fonéticas e morfossintáticas. Línguas orais carecem dos articuladores laringe, garganta, língua, dentes, lábios, por exemplo; enquanto os articuladores, nas línguas de sinais, são os braços, as mãos, o corpo, o rosto, por exemplo.
Línguas de sinais também apresentam níveis de conhecimento gramatical fonológico (isto com a mudança da sinalização), morfológico (modo, tamanho, plural, gênero), semântico (significado), sintático (estrutura, organização) e pragmático (visto, implicitamente, no contexto comunicativo). Livro, comparado à amizade, é um por todos e todos cabem no livro.
A forma e orientação das mãos são representações na escrita de sinais, além de movimento que indica, gesto que orienta. Para a criança surda, aprendendo a ler, o pensamento se elabora a partir da Língua de Sinais (visoespacial) que ela usa.
A linguagem desenvolve-se por meio da interação com a criança surda, igualmente a aprendizagem por meio da mediação do professor. Há recurso didático digital como meio pedagógico ao professor que não fala Língua de Sinais e tem na aula uma criança surda para ensiná-la a ler.
Cabe ao professor fazer as adaptações pedagógicas de acordo com cada nível de entendimento do processo de ensino-aprendizagem. Com a inteligência artificial por meio desta ferramenta, virtual, a criança ouvinte, aprendendo a ler na mesma turma da criança surda, consegue se comunicar com a criança surda, interagindo com ela em seu processo de aprendizagem, considerando a teoria de Vygotsky para o qual a aprendizagem ocorre pela interação historicossocial.
Me pergunto por que todos não leem? Durante o processo de alfabetização e letramento da criança surda são considerados os classificadores da Língua de Sinais no trabalho pedagógico do professor.
Enquanto o classificador descritivo descreve a sala de aula, por exemplo, descreve a imagem da escola, os especificadores são necessários para descrições em detalhes (textura, forma etc.); e outro classificador que se usa durante o processo de alfabetização e letramento é o plural nas configurações de sinais, configurações de mãos com as quais se descrevem repetidas vezes – transmitindo o classificador plural. Há um classificador instrumental, usado na aprendizagem da criança surda, que representa certo instrumento.
Outro classificador descreve a ação por meio corpofacial de seres agindo em seu habitat (um peixe; um pássaro ao usar o bico descascando uma vagem de feijão-de-corda) etc. Vidas tornam-se secas quando não se descobrem vidas nos livros. Sabe-se que a criança surda aprendendo a ler, ela está formando o seu léxico, isto acontece no processo de aprendizagem de uma criança ouvinte.
Na Educação Básica, a criança surda matriculada para aprender a ler, dificilmente tem domínio da Língua de Sinais, isto porque ela é, em geral, filha de pais ouvintes; e nem sempre a Educação Básica, por exemplo, oferece matrículas em escolas bilíngues. Há mais de quatorze mil sinais existentes na Libras para se comunicar.
Esta é uma disciplina obrigatória, na universidade, na formação fonoaudióloga ou de professores; e, historicamente, o curso de Letras Libras, no Brasil, inicia-se na UFSC. Não há tradução exata da Língua Portuguesa à Libras, como não há outra língua oral para a Língua de Sinais; além da presença das variações diatópicas – em cada lugar há sinais diferentes, regionalizam o contexto comunicativo da cultura surda.
Esta possui o jeito surdo de ser, de perceber, de sentir, de vivenciar, de comunicar e de transformar o mundo escolar em Santana e em outros lugares mundo afora. Falar sobre livros é uma fala que percorre grande sertão: veredas.
Observe o trabalhador ...No shopping preocupado com salário e as férias atrasadas são as últimas a fecharem ...as portas suas mãos de plástico e ferro promovem o trabalho depois que escurece a Lua, e tudo é silêncio no mercado, na escola, na igreja e nas praças os vazios olham-se de soslaio ...as cadeiras, as mesas ...descansam doutra diária suor corre na ruga na folha do calendário passando dia a dia, seu nome de batismo é Haicai, casado com a Natureza Sábia.
Na velha floresta, pé de vento na árvore; e o folhear, aí, cai. Na casa do Haicai, mergulham no balde d'água os pés cansados.
E Natureza e Haicai conversam, e ele cochila ouvindo a voz dela. E nessa hora, em minha casa, na janela da sala o sol acorda a praia: desce um bando de maçarico-do-banhado; no jardim de casa: hortaliças tomadas pelo sopro do vento sul; no quintal, a jabuticabeira.
Disse Haicai à Natureza: Vejo emoldurada na velha porta de madeira a sombra da primavera. 1...2...3...4...5... Lavadeiras pulam no rio a e i o u. O frio do inverno se abriga nas rochas fogem os morcegos.
O grilo na palha falou, quando Jesus nasceu, O povo crucifica até Deus. A coruja que habita o interior da mulher é calma e simples como a lua.
A casa das formigas naquela tarde de chuva o açucareiro. Mãe-d'água na pedra; banho de sol no cabelo só bebe saquê.
A velha calçada atravessa a tarde quente um caramujo. Para de bater o coração da árvore por causa dos jornais.
Iluminata Barros Farias Ricardo
chegou aos 11 de maio de 1918,
e resolveu voltar no ano de 2018;
e o seu pai, Misael Alves Farias,
veio aos 3 de fevereiro de 1885,
e voltou aos 15 de abril de 1972.
Deoclécio Baptista de Almeida
veio aos 29 de junho de 1910,
e se foi aos 31 de janeiro de 1977;
a esposa Amélia Cavalcanti Almeida,
que chegou aos 30 de julho de 1906,
despediu-se aos 5 de junho de 1994:
decerto foi ao encontro de seus pais,
o velho Francisco Pedro dos Santos
e a parteira Maria Carvalho Cavalcanti.
Frente al mar – Un corazón de mujer frente al mar puede transmitir la geografia del oceano la cena a luz de velas em El mar El barco navega lento en uma noche clara en Viña del Mar.
Will you come up to limerick? – One – Loose Noose Tie Lie Loose. – Two – At the death’s door A silver coin poor From head to foot In a bad fix, in a mess root At the death’s door.
As questões na contemporaneidade eram resolvidas pela assimilação da História. A aprendizagem sempre ocorreu como uma espécie de transmutação no processo que constrói essa aprendizagem. Era inegável a importância do planejamento de ensino, o planejamento de aula. O êxito no ensino e na aprendizagem devia ser regra e não exceção.
No trabalho pedagógico, entre paradigmas aprioristas (porque se achava que o processo de aprendizagem ocorresse anterior à experiência) e empiristas (porque se achava que o processo de aprendizagem ocorresse pela experiência), a metodologia ainda era a parte fundamental em salas de aula para que houvesse êxito no ensino e na aprendizagem. Na construção do conhecimento, ainda era de responsabilidade da pedagogia fazer escolhas. Como normatizava a legislação sobre a incumbência do professor de zelar pela aprendizagem dos alunos.
Ao final do percurso era possível concluir que não havia educação formal sistematizada sem que não houvesse superação do apriorismo pedagógico e do empirismo no planejamento de ensino. Vamos falar sobre livros, Santana? Velho poço d’água mergulha um balde vazio enche a lembrança.
Marcello Ricardo Almeida, autor dos livros O homem na encruzilhada: um bando de sanhaços adormece o dia, e Lagarta de fogo pés descalços na grama fogueira de São João.
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